Corpo
Já não me olho ao espelho. Talvez seja porque não quero ou por ter perdido o hábito. Não gosto da imagem que vejo. Imita cada movimento que faço e cada decisão que tomo. Se como mais, menos ou até mesmo nada. Se saio e me arrisco ou se me guardo e cuido. Comecei a pensar um pouco, diria mesmo deambular, sobre o assunto: não quero ver o que não me agrada mas porque é que não me tento agradar? Entendi, então, que a lógica que tinha anteriormente pensado – onde o corpo segue o que realizamos – era, na verdade, a solução. Não é fácil, admito, tomar ação. No entanto, e apesar de todos os condicionalismos possíveis enquanto humanos, o nosso corpo torna-se uma reflexão de nós mesmos. Marcas de quedas, cortes, vícios, trabalho, desleixo e a sua decoração. Tudo isto nos caracteriza. Aliás, a nossa visão sobre ele caracteriza-nos ainda mais. Acredito que não haja necessidade de nos idolatrarmos. Amarmos verdadeiramente o nosso corpo é um processo que passa essencialmente pela aceitação e conforto. O nosso ideal de corpo pode mesmo ser utópico em relação às nossas possibilidades, por isso penso que a chave seja conhecer e aceitar. O resto do processo é um caminho para moldar a nossa imagem com referência do que desejamos.